1° Cirurgião Plástico na Obesidade no Brasil

  • 1° Cirurgião Plástico na Obesidade no Brasil

    Prof. Dr. José Humberto Cardoso Resende fez a primeira cirurgia plástica na obesidade do Brasil. A paciente I. S. de 41 anos, 1,70 m, chegou a 23ª Enfermaria da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro em dezembro de 1975. Tendo como chefe da Enfermaria o saudoso professor Xavier Lopes. Eu fazia meu último ano de Residência em Cirurgia Plástica do Serviço Credenciado do também saudoso Prof. José Juvenil Teles, do Hospital Cruz Vermelha e da Beneficência Portuguesa do Rio de Janeiro.

     

    Foi um sábado, às 10h00 da manhã e a chefe de enfermagem era irmã Lúcia Sezuris. Com 215 kg de peso corporal, amparada pelos seus dois filhos, a paciente chegou e disse: “ Doutor, estou na oficina para consertar minha lataria”!

     

    Esse foi o motivo de eu ter dado o nome das reuniões das obesas e dos obesos de “Oficina dos Obesos, que, mais tarde, solicitei e recebi a patente do INPI. Até então, não existe cirurgia bariátrica. Pedi ao professor chefe para interná-la, para que pudesse emagrecer um pouco. Era hipertensa, diabética e não conseguia levantar da cama sem ajuda. Pedi parecer do Prof. Ivo Pitanguy que enviou dois colegas para examiná-la: Dr. Sérgio Carreirão e Dr. Sérgio Lessa. Os jovens médicos escreverão no parecer: “No momento, não tem condições clínicas de submeter-se à cirurgia reparadora das mamas”, que eram a maior parte da obesidade. De três em três meses, dávamos alta de um mês à paciente. Quando fez um ano de internada, já em janeiro de 1976, após ter perdido 30 kg, tivemos a coragem de marcar a primeira cirurgia de alívio corporal na paciente.

     

    A equipe era formada pelos anestesistas: Dr. Kleber Sardemberg (RJ) e Dr. Marcos Botelho (RJ); 1° Auxiliar: Dr. Elmo Glória Filho (RJ); 2° Auxiliar: Dr. Hermes Galvão de Sá Filho (PB); e o cirurgião: Dr. José Humberto Cardoso Resende.


    Fizemos a marcação do “ W “ da técnica do professor Ivo Pitanguy, mas com a intenção de amputar o excesso das mamas e montá-las depois decorticá-las. Nenhuma intercorrência na primeira vez. 32 kg de peças extirpadas, 18 kg da mama direita e 14 da mama esquerda. Com este alívio, ela já podia levantar da cama sozinha.

     

    A paciente ficou internada três anos, entre internações e altas. Tiramos 12 kg do abdome; mas 4 kg das mamas, para terem melhor formato; 2 kg de monte da pube; 2 kg de cada braço; 8 kg das coxas, sendo 3kg da direita e 5 kg da esquerda; e nenhuma plástica de face. Após os três anos, ela recebeu alta, pesando 71 kg e usando calça jeans. Talvez, por este caso, muitas obesas nos procuravam até conseguirmos, numa só “ Oficina “, reunirmos 350 pessoas no anfiteatro do Hospital Federal dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro.

     

    Hoje, no Brasil, existe mais de 40% das pessoas com sobrepeso e 10% de obesos mórbidos. Idealizamos e publicamos algumas técnicas para alívio corporal e, mais tarde, com a criação da cirurgia bariátrica, houve um aumento da autoestima desses pacientes.

     

    Temos aconselhado primeiro emagrecer um pouco, depois fazer a cirurgia bariátrica e, nos casos mais graves, faz-se a cirurgia de alívio das mamas e só depois a bariátrica, diminuindo o índice de óbito e de intercorrências.

     

    Em 2004, criamos na Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica o Capítulo de Cirurgia Plástica na Obesidade e Pós-bariátrica, no Congresso Brasileiro de Florianópolis – SC. A ata foi assinada por mim e por inúmeros colegas brilhantes, como: Dr. Roberto Kaluf (GO), Dr. Miguel Modolin (SP), Dr. João Medeiros (RJ), Dr. Ricardo Baroud (SP) e tantos outros.

     

    Paciente I.S. 41 anos – 1975

     

    Autor: Dr José Humberto Cardoso Resende.